terça-feira, 3 de maio de 2011

7 erros que os pais cometem em relação aos filhos

Mimos e caprichos pesam nas finanças familiares e não ensinam crianças a planejar, poupar e esperar

A educação financeira para crianças e adolescentes nunca esteve tão em alta. Especialistas concordam que jovens bem orientados tornam-se adultos bem sucedidos financeiramente. Mas muitos pais ainda não sabem muito bem como lidar com o assunto dentro de casa e, pior, deixam a inexperiência e a emoção levá-los a cometer sérios erros na orientação dos filhos quanto ao dinheiro. Conheça alguns deles:

1) Deixar de poupar para a própria aposentadoria para que os filhos tenham tudo.

É comum que os pais, principalmente as mães, deixem de se preocupar consigo mesmos em prol dos filhos. Na tentativa de dar aos pequenos o que não tiveram na juventude, muitas mulheres deixam de poupar para a própria aposentadoria. Pior: formam reservas polpudas para a prole, chegando à velhice sem outros meios além da previdência social. Elas vivem mais que os homens, passam o fim da vida sozinhas, mas têm dificuldades de se sustentar e pôr em prática projetos pessoais.

Pensar nas próprias finanças é sim uma maneira de pensar nos filhos. Pais pobres na velhice podem se tornar fardos para os filhos bem-sucedidos que criaram. “É como as máscaras que caem do teto quando ocorre despressurização na cabine do avião. Primeiro o adulto coloca a dele e só depois ajuda a criança a colocar a dela. Primeiro a previdência dos pais, depois a dos filhos”, ensina a educadora financeira Cássia d’Aquino.

Melhor do que encher os filhos de presentes, viagens e atividades extracurriculares é formar um fundo de emergência facilmente acessível caso algo aconteça aos pais. “Quando se tem um filho, é preciso considerar: o que vai acontecer a essa criança se eu morrer? É duro pensar nisso, mas é importante”, diz a educadora.

Ela aconselha os adultos a designarem como tutor uma pessoa de extrema confiança e formar uma poupança para garantir o sustento da criança num primeiro momento. O ideal é que essa reserva não entre em inventário – um fundo de previdência VGBL (que funciona como se fosse um seguro), um seguro de vida ou mesmo uma conta poupança conjunta com o tutor. Caso – felizmente – nenhum mal aconteça, quando o filho fizer 18 anos, esse dinheiro poderá ser usado para outro fim, sem problemas.

2) Promover momentos especiais para crianças jovens demais para se lembrar deles.

É preciso admitir. Dar uma baita festa de aniversário para um bebê de um ano não vai impactar em absoluto seu desenvolvimento ou suas boas lembranças. Aliás, dali a alguns anos, a criança sequer vai se lembrar do evento. Se a festa for uma forma de agradecer à ajuda e à paciência de parentes e amigos, avalie a necessidade de se gastar rios de dinheiro no evento. Se for a oportunidade que os pais esperavam para exibir a criança, pense um pouco mais detidamente se é isso mesmo que deve ser feito.

O mesmo vale para as férias elaboradas. Crianças pequenas dificilmente vão se lembrar da viagem maravilhosa à Disney, então a menos que este seja o sonho pessoal dos pais, o ideal é adiar um pouco esses planos. Não gaste dinheiro e energias em atividades das quais as crianças não vão se lembrar. Investir em carinho e momentos simples em família, nos primeiros anos, não só é mais barato como vai torná-las muito mais felizes.

3) Ceder aos caprichos dos filhos, dando-lhes tudo o que pedem.

“É natural que as crianças queiram todos os brinquedos e pacotes de biscoito que veem pela frente. É do ser humano querer tudo. O que não é natural é que os pais cedam”, diz a especialista em educação financeira Cássia d’Aquino. Para muitos pais pode ser difícil dizer não, especialmente para aqueles que desejam “dar aos filhos o que não tiveram”, ou compensar algum sentimento de culpa. Mas uma educação financeira de sucesso passa por ensinar às crianças a se planejar para comprar o que desejam e saber esperar.

Cássia d’Aquino dá algumas dicas. Por exemplo, numa ida ao supermercado, é de bom tom fazer sempre uma lista, não só para mostrar aos filhos que a família planeja os seus gastos, como também para incluí-los nesse planejamento. As crianças podem ser convidadas a ajudar na elaboração, sugerindo apenas um item de sua escolha. Se, chegando ao mercado, elas pedirem produtos que não estão na lista, cabe aos pais serem firmes e dizerem não, se mantendo fiéis ao planejado.

Presentes fora de hora também devem ser evitados. A maioria das crianças pedirá todos os brinquedos que veem anunciados na televisão, mas os pais não devem ceder. Para Cássia, o ideal é encorajar os filhos a pedirem o brinquedo no aniversário ou Natal. “Os pais têm que ensinar os filhos a suportarem esperas. As crianças gostam da expectativa, da espera, de contar os dias para o grande dia. É bom estabelecer e cumprir datas para presenteá-las, senão o presente se banaliza”, orienta a educadora.

Para a psicóloga Andréa Villas-Boas, autora do livro “Valor Feminino”, sobre finanças para mulheres, dar aos filhos tudo o que eles pedem é uma forma de torná-los indiferentes ao valor do dinheiro, além de tirar deles o prazer de batalhar e esperar por algo que se deseja muito. “É preciso orientar a criança, dizendo ‘isso está caro’, ‘isso está barato’, ‘você já tem um brinquedo igual a esse’, para ela começar a ter noção”, diz a especialista.

4) Presentear os filhos por culpa.

É preciso também resistir à tentação de presentear os filhos como forma de compensar pela ausência ou pelas longas horas dedicadas ao trabalho. Principalmente se os pequenos não tiverem pedido nada. “As crianças ficam desagradadas. Com o tempo a coisa está tão banalizada que elas nem agradecem mais quando ganham algo”, explica Cássia d’Aquino. Mais do que brinquedos, as crianças querem um pouco de tempo ao lado dos pais, em atividades que não necessariamente envolvam consumo.

5) Comprar tudo novo de novo

Crianças crescem rápido. Roupas e brinquedos se tornam rapidamente obsoletos, mantendo-se praticamente novos. Por que não reaproveitá-los? Nos Estados Unidos já existem até sites onde os pais conseguem trocar as roupas de seus filhos por outras de tamanhos maiores, como o ThredUP.

A iniciativa ainda não chegou ao Brasil, mas não custa tentar fazer o mesmo com irmãos, primos e amigos que também já sejam pais e mães. Famílias que planejam ter mais de um filho podem guardar os pertences do primogênito para serem reaproveitados pelos próximos. Resistir ao impulso afetivo de comprar tudo novo para o próximo filho pode render uma boa economia e, certamente não causará traumas.

6) Encher os filhos de atividades extracurriculares.

Essa é uma faca de dois gumes. Não há dúvidas de que é saudável que crianças tenham atividades extras e hobbies. Mas extrapolar a dose na tentativa de criar “um vencedor” pode fazer o tiro sair pela culatra, além de ser um tremendo desperdício de tempo e dinheiro.

Não é que os pais não possam colocar a filha de três anos no ballet ou o filho de sete no curso de inglês. Mas para que a atividade não seja um sacrifício para a criança e realmente contribua para torná-la uma pessoa melhor, convém se perguntar os motivos dessa decisão.

Será preciso começar a estudar inglês com sete anos? O ballet foi escolhido porque é lúdico, desenvolve a coordenação motora e evita o sedentarismo, ou o desejo dos pais é que a menina se torne a primeira bailarina do Teatro Municipal? A aula de violino foi escolhida pelo que pode acrescentar à criança, por seus próprios desejos ou talentos, ou porque sempre foi o sonho do pai aprender a tocar o instrumento?

Para os especialistas, os pais não devem embarcar na histeria do “quanto mais cedo começar, melhor”. Se estiverem em dúvida, devem esperar um pouco mais antes de matricular o filho. Talvez mais um ano, para amadurecer a ideia. Afinal, de nada adianta começar cedo para se cansar e desistir logo. Se a criança for jovem demais, terá dificuldade até de desenvolver o gosto pela coisa.

Mas o mais importante é não transferir para os filhos os próprios desejos: o sonho de infância ou a projeção da profissão que gostariam que eles seguissem. “Ter filho é projetar, para o bem e para o mal. É normal que os pais queiram que os filhos conquistem mais do que eles próprios conquistaram, mas nada lhes dá o direito de transferir para eles os seus recalques”, diz Cássia d’Aquino.

“Os pais devem perceber as necessidades e os talentos da criança. Não é preciso esperar que ela peça para começar uma atividade, mas sim identificar e sugerir atividades que tenham a ver com ela ou que sejam necessárias à formação acadêmica e à saúde. Trata-se de perceber os sinais que os filhos emitem e oferecer mecanismos para que eles testem seus talentos”, aconselha a educadora.

Cássia explica ainda que ter tempo livre para brincar também é fundamental para o desenvolvimento da criança. “Nas brincadeiras, a criança elabora, desenvolve a criatividade, tem acesso a suas dificuldades. Se ela for privada disso, acaba perdendo sua capacidade de saber o que quer e o que não quer, porque são sempre os pais que apontam o caminho”, esclarece.

7) Distorcer os objetivos da mesada.

Mesadas e semanadas são instrumentos para ensinar crianças e adolescentes a poupar, planejar seus gastos e gerir o próprio dinheiro. Mas há pais que distorcem seu objetivo, transformando-a em moeda de troca, de chantagem ou mesmo em uma forma de acirrar o controle aos filhos.

Muitos especialistas em educação financeira discordam, por exemplo, do uso da mesada para remunerar quem consegue boas notas, cumpre as tarefas domésticas ou vai visitar os avós, cortando-a, por outro lado, quando querem castigá-los. “Esse é um erro crasso. Fazer as tarefas de casa e ir bem na escola são obrigações das crianças. Ao remunerá-las, os pais estarão formando um pequeno canalha, que só vai fazer as coisas se for por dinheiro. Ou pior: no limite, será capaz de qualquer coisa para ganhar dinheiro”, alerta Cássia d’Aquino.

Outro erro, segundo as especialistas é querer controlar excessivamente os gastos dos filhos, chegando até mesmo a impedi-los de gastar o dinheiro da mesada. “Isso não é mesada. Os pais devem ajudar os filhos a fixar objetivos de poupança e prazos, para ensiná-los a lidar com o dinheiro, mas não congelar a mesada”, diz Cássia. “Pode-se ensinar o que é pertinente ao filho comprar na sua idade”, acrescenta Andréa Villas-Boas.

Chegada a época da faculdade, por mais que seja difícil para os pais, é preciso admitir que os filhos já estão adultos. Portanto, é hora de começar a planejar a gradativa redução da mesada até sua extinção. “A ideia é que o jovem se emancipe financeiramente. Ele deve ser incentivado a estagiar, trabalhar e a pagar as próprias contas. Assim que o jovem começa a receber um salário, é bom que ele contribua com alguma despesa da casa, mesmo que simbolicamente”, afirma Cássia d’Aquino.

Fonte: Exame.com

Publicado em 20/04 por Julia Wiltgen

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