sexta-feira, 21 de maio de 2010

Vale a pena ler...

Olá, pessoal.

Esses dias chegou em minhas mãos um texto da Marta Medeiros, que vale a pena compartilhar com vocês. Posso apostar que muitas de vocês vão se identificar:

"Não há nada que me deixe mais frustrada
do que pedir Pudim de sobremesa,
contar os minutos até ele chegar
e aí ver o garçom colocar na minha frente
um pedacinho minúsculo do meu pudim preferido.
Uma só. Quanto mais sofisticado o restaurante,
menor a porção da sobremesa. Aí a vontade que
dá é de passar numa loja de conveniência,
comprar um pudim bem cremoso e saborear
em casa com direito a repetir quantas vezes
a gente quiser, sem pensar em calorias,
boas maneiras ou moderação. O PUDIM é só
um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.
A vida anda cheia de meias porções, de prazeres
meia-boca, de aventuras pela metade. A gente
sai pra jantar, mas come pouco. Vai à festa de
casamento, mas resiste aos bombons. Conquista
a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir
que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua
com pavor de ser rotulada de 'fácil'). Adora tomar
um banho demorado, mas se contém pra não
desperdiçar os recursos do planeta. Quer beijar aquele
cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer
papel ridículo. Tem vontade de ficar em casa vendo
um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga
a ir malhar. E por aí vai. Tantos deveres, tanta
preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar
na vida sem pegar recuperação... Aí a vida vai ficando
sem tempero, politicamente correta e existencialmente
sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente
sem tesão... Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'.
Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança
e os 10 mandamentos. Ser ridícula, inadequada,
incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que
pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos
e meias porções. Até Santo Agostinho, que foi santo,
uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos
assim: 'Deus, dai-me continência e castidade,
mas não agora'... Nós, que não aspiramos à santidade
e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?)
desejar vários pedaços de pudim, bombons de muitos
sabores, vários beijos bem dados, a água batendo
sem pressa no corpo, o coração saciado. Um dia a
gente cria juízo. Um dia. Não tem que ser agora.
Por isso, garçom, por favor, me traga: um pudim
inteiro um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order',
uma caixa de trufas bem macias e o Richard Gere,
nu, embrulhado pra presente. OK? Não necessariamente nessa ordem.
Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago ..."

Marta Medeiros

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