Artigo publicado no jornal Valor Econômico dia 01/07/2010
A expectativa de vida do brasileiro cresce a cada ano. Segundo o IBGE, as mulheres vivem a mais que os homens sete anos, sete meses e seis dias. Por esse motivo, há uma grande chance de a mulher, em algum momento ao longo da vida, ao ficar sozinha, ter que assumir as rédeas de suas finanças - querendo ou não.
Dados recentes da condição econômica das brasileiras mostram uma realidade chocante:
- 67% dos idosos que vivem sozinhos são mulheres
- 40% das mulheres são sozinhas; e se elas têm a partir de 12 anos de estudo, esse índice aumenta para 50%
- Na mesma função que os homens, as mulheres recebem salários em média 27% menores
- Por ganharem menos, por se afastarem do trabalho por algum tempo após a maternidade, e cuidarem de pais idosos na maturidade, as aposentadorias femininas também são inferiores
- Três em cada quatro idosos pobres são mulheres
- 90% das mulheres são responsáveis pelas próprias finanças em algum momento da vida
- Sete em cada dez brasileiras enfrentarão a pobreza em algum momento.
Quando penso nesses dados, tenho a certeza de que, assim como as mulheres assumiram as rédeas de suas carreiras nos últimos anos, a próxima presa a ser laçada será o planejamento financeiro pessoal e, se for o caso, também familiar. Apesar de aos poucos isso já começar a acontecer, ainda estamos engatinhando nessa frente.
Juntando as informações sobre o aumento da expectativa de vida e as regras atuais da aposentadoria, a conta futura da Previdência Social não fecha. Isso porque será cada vez maior o número de aposentados e, proporcionalmente, cada vez menos pessoas contribuindo. Essa realidade demonstra que a responsabilidade sobre o futuro financeiro será de cada um! Cabe a mulher pensar sobre como quer viver na terceira idade e com que qualidade de vida.
Para termos uma vida digna, com uma boa moradia, cuidados com a saúde e possibilidade de algum lazer, é preciso planejamento. Esse aspecto, infelizmente, não é algo comum em nossa cultura. Precisamos nos dar conta de que, quanto mais jovens começarmos a acumular dinheiro, melhor e mais fácil será, pois menos precisaremos poupar por mês.
As mulheres mais jovens parecem que já se deram conta e começaram a cuidar de seu futuro financeiro, como nos mostra a pesquisa realizada pela Brasilprev. O levantamento diz que quase metade (44%) das clientes de planos de previdência privada do sexo feminino tem até 30 anos, ao mesmo tempo em que 45,2% das portadoras de previdência são solteiras. Podemos inferir que estamos falando do mesmo público. O que será que está acontecendo com as mulheres? Será que desistiram de arrumar alguém para cuidar de seu futuro? Ou elas estão efetivamente mais preocupadas com sua independência financeira?
As mulheres acima de 50 anos, porém, ainda precisam tomar consciência e iniciar seu projeto para que tenham uma aposentadoria feliz. Acredito que existe um forte ingrediente cultural nisso, pois as mulheres dessa geração certamente foram criadas para cuidar dos outros antes de pensar em si. Aliás, parece ser algo muito egoísta a mulher pensar em si em primeiro lugar, não acha? Mas não deveria ser assim. Gosto de usar para ilustrar o que penso a respeito disso a orientação que os comissários de bordo dão no início dos voos. Ou seja, você deve primeiro colocar a sua máscara e depois ajudar a pessoa ao seu lado.
A mulher ao cuidar primeiro dos filhos, do marido ou dos parentes, acaba gerando uma situação em que, pode até parecer boa no curto prazo, mas se torna um problema no longo prazo. Agradar os outros hoje poderá gerar sua dependência financeira amanhã. O raciocínio deveria ser o inverso: se a mulher quer o bem dos outros, deveria primeiramente cuidar de si, para não depender dos outros no futuro.
Como podemos mudar esta realidade? Acredito que por meio da educação financeira. Na medida em que as mulheres entenderem mais sobre finanças pessoais, certamente se sentirão mais seguras quanto aos seus investimentos e também melhor poderão preparar as próximas gerações, afinal a responsabilidade da mulher na educação dos filhos é inegável.
As mulheres têm total condição de virar mais este jogo! Os melhores atributos femininos para alcançar o sucesso nessa área são a disciplina, a persistência e a determinação. O primeiro passo é tomar a decisão: quero cuidar do meu futuro! Decisão tomada, agora é uma questão de atitude. E atitude é o que não falta nas mulheres do século XXI.
Andréa Villas Boas é psicóloga, consultora de Recursos Humanos e autora do livro "Valor Feminino - Desperte a riqueza que há em você"
E-mail: andrea@valorfeminino.com.br
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